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GESTÃO PELO MEDO NO BB

Fetec e Seeb Brasília denunciam na Câmara política ‘tecnofeudal’ que precariza trabalho e adoece funcionalismo do BB

1 de Dezembro de 2025 às 19:00


Seeb Brasília

Em audiência pública realizada nesta segunda-feira 1º de dezembro na Comissão do Trabalho da Câmara dos Deputados, a Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN) e o Sindicato dos Bancários de Brasília denunciaram a atual direção do Banco do Brasil por manter a política “tecnofeudal” herdada do governo anterior, que simultaneamente está destruindo o papel público do BB, igualando-o aos bancos privados, e consolidando uma gestão de pessoas baseada no medo, que precariza as relações de trabalho e produz uma verdadeira epidemia de adoecimentos psíquicos dos trabalhadores.

Ao final da audiência pública, convocada pela deputada federal Erika Kokay (PT/DF) a pedido da Fetec e do Seeb Brasília, a Comissão decidiu levar a discussão à Frente Parlamentar em Defesa das Empresas Públicas, à Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho) e à Secretaria de Defesa do Consumidor, além de solicitar reunião com a presidenta do BB, Tarciana Medeiros.

Convidados para participar da audiência, os diretores de Comercial Varejo (Kamillo Tononi Oliveira Filho) e de Tecnologia do BB (Rodrigo Mulinari) não compareceram. “Se o Banco do Brasil não está aqui é porque não quer ouvir as queixas dos funcionários e nem solucionar os problemas”, criticou Erika Kokay.

Assista abaixo a íntegra da audiência pública.

“Importante fazer essa discussão sobre o Banco do Brasil, uma empresa pública centenária que é patrimônio do povo brasileiro, que tem como função desenvolver um papel de crédito e social importantíssimo. Atuou assim em muitos momentos críticos, como na crise financeira de 2008. Mas desde 2016, após o impeachment da presidenta Dilma, o Banco do Brasil deu uma guinada em toda a sua estratégia corporativa, praticamente abandonando sua função social e tornando-se um banco de mercado”, denunciou Rodrigo Britto em sua participação na audiência pública.

Na sequência, lembrou o presidente da Fetec-CUT/CUT, o governo Temer implementou a reforma trabalhista, a lei que trata das formas de contratação e a reforma da previdência, que fragilizaram o contrato de trabalho. Depois veio a consultoria que trouxe para o BB um modelo de gestão dos bancos privados, especialmente do Itaú, “fazendo com que os trabalhadores do Banco do Brasil, que tinham uma cultura coletiva de família BB e trabalhavam de forma coletiva, passassem a concorrer uns com os outros”.

E em 2020 veio o Performa, “que o funcionalismo chama de Deforma”, que trouxe uma redução de até 40% das comissões e funções gratificadas, “gerando uma aberração que é ter quatro faixas de remuneração distintas para a mesma função”, acrescentou Rodrigo. Depois o BB extinguiu os caixas executivos, fechou 1.500 agências e unidades e reduziu o número de funcionários de 110 mil para 85 mil.

“A gente esperava que a nova direção do banco mudasse essa estratégia, mas ela infelizmente manteve a mesma política implementada em 2016, com as condições de trabalho precarizadas, o atendimento ao cliente e usuário penalizado, potencializando o adoecimento generalizado dentro do banco. O BB não tem mais compromisso com o Brasil e com seus funcionários”, concluiu Rodrigo Britto.

Confira abaixo a explanação do presidente da Fetec-CUT/CN.

O medo como forma de gestão

A primeira expositora da audiência pública foi a professora titular da Universidade de Brasília (UnB)e Pesquisadora Colaboradora, Ana Magnólia Mendes, professora titular da Universidade de Brasília no Departamento de Psicologia Social e do Trabalho e coordenadora do Instituto de Pesquisa e Estudos sobre o Trabalho. Ela apresentou resultados de três pesquisas que coordenou nos últimos dois anos, uma nacional para a Contraf-CUT, outra regional para a Fetec-CUT/CN e a terceira para o Sindicato de Brasília.

A pesquisadora constatou nas pesquisas que há uma gestão que se impõe pelo medo. “O medo é o que vai aparecer em todas as pesquisas a nível nacional, regional e local”, destacou. Denunciou que está em curso o desmonte da gestão de pessoal dentro do Banco do Brasil, como resultado do uso de tecnologia a partir da Inteligência Artificial, que tem por objetivo eliminar as pessoas em seus postos de trabalho.

A professora reforçou a denúncia de que o Banco do Brasil tem feito uso da IA para seleção, gestão e treinamento de pessoal, levando à extração de dados definidos para explorar mais a mão de obra dos empregados da instituição. “O medo da exclusão e de perder comissionamentos tem provocado grandes riscos psicossociais, levando a uma degradação do ambiente de trabalho”, disse a pesquisadora da UnB. Sua explanação mostrou que há a imposição de uma política de gestão pela direção do Banco do Brasil, que incentiva conflitos e desconfianças no local de trabalho, denominada por ela de modelo “tecnofeudal”.

Confira a exposição da pesquisadora Ana Magnólia:

O secretário de Saúde e Condições de Trabalho da Fetec-CUT/CN, Wadson Boaventura, acrescentou que a pesquisa coordenada por Ana Magnólia para a Federação Centro-Norte mostrou o caráter produtivista e de competição dentro do BB, que somada à falta de funcionários, que produz um ambiente de trabalho tóxico.

“É importante salientar a gestão pelo medo imposta pelo BB, com atos de violência como a intimidação, a humilhação, o constrangimento, de vergonha, de desqualificação e de discriminação, com desrespeito e isolamento”, completou Wadson.

‘Funcionários são tratados com ódio’

O presidente do Sindicato de Brasília, Eduardo Araújo, lembrou que a postura da direção do BB não é de ataque apenas aos funcionários, mas também ao Brasil. A legislação obriga a direção do BB a prestar contas semestrais à Câmara dos Deputados, mas isso não tem sido feito, desrespeitando o Parlamento. A estratégia do banco tem sido favorecer os acionistas, não os interesses da instituição. “Será que os acionistas, aqueles que têm compromisso com a empresa pública, sabem que a busca do lucro está semeando pavor, sangue e sofrimento entre a categoria?”, perguntou Araújo.

“Os funcionários têm sido tratados com ódio”, denunciou Araújo. Lembrou que os bancários que deveriam ter contato com a clientela estão sendo substituídos por “robôs” ou terceirizados (via correspondentes bancários), com a direção causando enormes transtornos para a categoria. Com a imposição do aumento de jornada para 8 horas a partir de 5 de janeiro, esperam-se novos descomissionamentos e momentos difíceis, como aconteceu em 1995.

Araújo apresentou o resultado de pesquisa realizada pelo Sindicato com o funcionalismo do BB. Foram entrevistados 1.660 funcionários, mostrando que a imensa maioria dos bancários não vê compromisso com a instituição ou com a categoria por parte da direção do banco. A maioria dos entrevistados com mais de 11 anos na instituição entende que a gestão do BB está na direção errada e não está comprometida com o banco. Os dados mostram que a imensa maioria da categoria enfrenta verdadeiros ataques, refletidos na pesquisa. O Sindicato fez inúmeras denúncias no MPT contra o assédio moral imposto aos trabalhadores pela direção do banco. “Os causadores de assédio moral, mesmo depois da condenação e de darem prejuízo ao banco, são promovidos”, denunciou o presidente do Sindicato.

‘Gestores não têm compromisso com a empresa pública’

Jeferson Meira, secretário de Relações Parlamentares da Contraf-CUT, reafirmou a denúncia sobre os ataques que os trabalhadores do banco têm enfrentado da atual gestão do BB, que se deterioraram completamente entre 2016 e 2022. Lembrou que havia a expectativa de que haveria diálogo a partir de 2023, mas isso não ocorreu. “Os problemas têm se acentuado desde o início da atual gestão”, afirmou Meira. Todas as falas reafirmaram que o adoecimento psicossocial tem crescido de maneira assustadora, o que não condiz com um banco público. A atual direção do Banco do Brasil quer impor ao funcionalismo de um banco público as mesmas condições de um banco privado. “São gestores que não têm nenhum compromisso com a empresa pública”, afirmou Meira.

Uma única voz na defesa do Banco do Brasil

Vários dirigentes sindicais dos bancários de Brasília e de Mato Grosso do Sul fizeram uso da palavra, relatando as dificuldades enfrentadas no dia a dia dentro do banco. Os deputados Reimont (PT-RJ) e Bohn Gass (PT-RS) estiveram presentes, ambos ressaltando a importância da defesa da categoria bancária e do Banco do Brasil.

A audiência encaminhou a realização de uma reunião da Frente Parlamentar em Defesa dos Bancos Públicos para tratar da questão específica que a categoria enfrenta no Banco do Brasil. A deputada Érika Kokay propôs formar uma comissão de parlamentares e ir à Presidência do BB para debater as questões apresentadas na audiência, que mostraram a grave situação enfrentada pela categoria. Também foi sugerida a realização de uma reunião com a Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho) e a Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho para debater o adoecimento e o sofrimento impostos à categoria bancária no Banco do Brasil.

Fonte: Fetec-CUT/CN, com informações do Banco do Brasil

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