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6 de Novembro de 2021 às 06:46

Enquanto o país afunda, lucros de Itaú e Santander disparam no 3º trimestre; entenda cenário


Dois dos três maiores bancos privados em atividade no país, Santander e Itaú Unibanco, divulgaram na última semana seus balanços do 3º trimestre. Enquanto a fome e a miséria crescem, eles permanecem imunes à crise e ampliam seus lucros em plena pandemia de covid-19.

Conforme dados apresentados na última terça-feira (2), o Itaú teve alta de 34,8% no lucro do 3º trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior. O lucro líquido recorrente, que exclui itens extraordinários, foi de R$ 6,779 bilhões.

As despesas operacionais do banco subiram apenas 1% em relação ao ano anterior, apesar da inflação. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 10,25% no acumulado de 12 meses até setembro.

Na semana passada, o espanhol Santander havia divulgado lucro de R$ 4,27 bilhões no trimestre, uma alta de 12% em relação ao mesmo período do ano anterior. Em comparação com o 2º trimestre, o crescimento foi de 4,1%.

A rentabilidade sobre o patrimônio líquido alcançou 22,4%, a maior da história do banco, que aprovou a distribuição de R$ 3 bilhões aos acionistas.

O Bradesco deve apresentar seus números ao final do pregão da Bolsa de Valores, na tarde desta quinta-feira (4). A expectativa também é positiva em relação ao trimestre anterior.

Como eles lucram na crise?

Menos de uma semana após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar a pandemia de covid-19, o governo brasileiro liberou R$ 3,2 trilhões para os bancos renegociarem prazos para os créditos já concedidos.

Mais de ano depois do início da pandemia, os bancos só haviam usado 23,7% desse valor. A missão de atender à população e às pequenas empresas durante a crise sanitária ficou praticamente restrita aos bancos públicos, segundo dados do Banco Central.

“Não é justo socialmente, enquanto concessões públicas, eles estarem cada vez mais demitindo, fechando postos de trabalho, especialmente em um momento delicado como esse”, analisou Vivian Machado, técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na subseção da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (CONTRAF-CUT), em entrevista ao Brasil de Fato.

“Os bancos alegam que estão digitalizando tudo porque é interesse do cliente, mas, se não houvesse essa procura, as lotéricas e a Caixa Econômica não estariam sempre cheias. Eles economizaram R$ 750 milhões em três ou quatro itens das despesas administrativas do ano passado só por conta do home office. Enquanto isso, os trabalhadores têm mais despesa com energia, com alimentação”, completou.

O crescimento da lucratividade também se deve aos provisionamentos feitos em 2020, ou seja, reservas que os bancos criaram para cobrir perdas futuras estimadas.

“No ano passado, houve queda nos balanços, mas não necessariamente por problemas na atividade financeira. O que houve é que, diante de um cenário imprevisível, com a pandemia decretada, os bancos subiram o provisionamento, temendo uma explosão da inadimplência”, explicou Machado.

O cenário para as instituições financeiras foi menos desastroso do que se imaginava, justamente devido aos planos emergenciais de crédito lançados pelo Banco Central.

Os bancos perceberam essa tendência, no último ano, e o provisionamento excedente vem sendo revertido.

O aumento dos lucros também se deve à redução das despesas com pessoal. Em plena migração para o formato digital, os bancos privados fecharam 1.343 agências durante a pandemia.

Os bancos firmaram um compromisso com os sindicatos de não demitir durante a pandemia, mas quebraram esse acordo a partir de junho de 2020.

Bradesco e Santander fecharam 10.933 postos de trabalho entre julho de 2020 e março de 2021. O Itaú foi o único dos grandes bancos privados que aumentou o número de funcionários, com 1,8 mil postos de trabalho a mais – resultado da incorporação de uma empresa de tecnologia.

Em agosto de 2021, o juiz Jeronimo Azambuja Franco Neto, da 60ª Vara do Trabalho de São Paulo, condenou o Santander em R$ 50 milhões por danos morais, em ação aberta pelo Sindicato dos Empregados Estabelecimentos Bancários São Paulo, por descumprir a promessa de não demitir.

Além da demissão de 3.220 trabalhadores na pandemia, considerou-se que o Santander perseguiu dirigentes sindicais.

O banco espanhol recorreu, e a indenização está suspensa até o julgamento do recurso. Se a condenação for confirmada, os R$ 50 milhões irão para o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, destinado a reparar danos à sociedade como um todo.

Apesar do acordo coletivo que garantiu aos bancários no Brasil um aumento de 10,97% em setembro, a elevação da taxa de juros pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido) deve produzir efeitos positivos nos balanços do 4º trimestre, com perspectivas ainda melhores para as instituições financeiras privadas.

O Brasil de Fato questionou a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) sobre as demissões em plena pandemia. Confira a nota enviada à reportagem:

“A Federação Nacional dos Bancos não negociou ou assinou nenhum acordo setorial sindical para a não realização de desligamentos durante a pandemia. A rotatividade de trabalhadores do setor bancário é tradicionalmente cerca de 3 vezes menor do que a média nacional. Os bancos se valem dos desligamentos voluntários, como pedidos de demissão, PDVs e aposentadorias, para adequar sua estrutura à nova realidade do mercado.

E o crescimento das operações digitais não tem como consequência a redução do número de pessoas que atuam no setor, pelo contrário. O avanço dos serviços digitais tem levado as instituições financeiras a contratar um grande volume de profissionais, especialmente em áreas como TI e segurança contra fraudes digitais, por exemplo.”

 

Fonte: Brasil de Fato


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