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6 de Dezembro de 2019 às 16:37

Palestra de Ladislau Dowbor na assembleia da Fetec-CUT/CN encerra curso A Era do Capital Improdutivo

Delegados das bases sindicais participaram nesta quinta 5 e sexta 6, em Cuiabá, das assembleias anuais da Federação


O economista Ladislau Dowbor, professor da PUC São Pulo, concluiu nesta sexta-feira 6 o curso de formação A Era do Capital Improdutivo, com uma palestra que proferiu no último dia das assembleias gerais (ordinária e extraordinária) que a Federação dos Bancários do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN) realizou em Cuiabá. Iniciado no dia 19 de julho, o curso inovador foi realizado quinzenalmente por videoconferência para dirigentes dos sindicatos filiados à Federação.

"As palestras e debates nas assembleias foram iluminadores para nos ajudar a entender essa conjuntura dramática para a categoria bancária e para a classe trabalhadora. Saímos daqui mais firmes, conscientes e unidos para dialogar com os bancários e mobilizar a categoria, e também a sociedade, para barrar a enxurrada de ataques que estamos sofrendo por parte de um governo autoritário que só beneficia os ricos e está destruindo os direitos dos trabalhadores", avalia Cleiton dos Santos, presidente da Fetec-CUT/CN.

Leia também sobre as assembleias:

˃ Nós somos a tempestade capaz de derrotar o fascismo: a mensagem na abertura da Assembleia da Fetec-CUT/CN

˃ É preciso combater a MP 905, que revoga 40 dispositivos da CLT e altera outros 135 

˃ Fetec-CUT/CN realiza Assembleia Geral Ordinária nesta quinta 5 e sexta 6, em Cuiabá

O curso foi baseado no livro do próprio economista Dowbor, A Era do Capital Improdutivo: Nova Arquitetura do Poder – Dominação Financeira, Sequestro da Democracia e Destruição do Planeta. A palestra do economista, que também é consultor de várias agências da ONU, foi transmitida ao vivo pelo Facebook e sua íntegra pode ser vista aqui

“O curso é um projeto piloto, dentro da nova política de Formação da Federação Centro-Norte, considerando nossas características geográficas e principalmente a necessidade de melhor nos qualificarmos e prepararmos para o enfrentamento dessa conjuntura extremamente adversa que estamos passando e que, com certeza, superaremos”, afirma José Wilson, secretário de Formação da Fetec-CUT/CN. Os dirigentes que participaram do curso receberam certificado das mãos do professor Dowbor.


O consultor do curso Jéter Gomes, o secretário-geral Ayr José, o secretário de Formação José Wilson, Dowbor e o presidente Cleiton dos Santos

A escandalosa concentração da riqueza

Por coincidência histórica, o curso da Federação foi concluído no mesmo dia em que o Banco Central anunciou que os bancos que operam no Brasil tiveram lucro líquido de R$ 109 bilhões entre julho de 2018 e junho de 2019, o maior resultado dos últimos 25 anos. Foi um lucro 18,4% superior em relação ao mesmo período do ano anterior, em plena crise econômica.

E exemplifica à perfeição a tese de Dowbor. “Como os bancos registram lucros bilionários em plena recessão e desemprego? Especulando e apropriando-se da riqueza do mundo – minérios, petróleo, trabalho, alimentos – produzida pelo trabalho”, afirma o economista.   

O neoliberalismo, na opinião de Ladislau Dowbor, vem provocando enormes transferências de renda dos mais pobres para as mãos dos mais ricos. A ponto de hoje as 26 pessoas mais ricas do mundo possuírem uma renda igual à da metade da população mais pobre do planeta. E no Brasil, as seis pessoas mais ricas possuem a mesma renda da metade da população mais pobre.

“Essa concentração de renda está nas mãos de grandes corporações, sobretudo do sistema financeiro. Os 147 maiores grupos econômicos (75% deles bancos) do mundo possuem 40% da economia global. O ‘núcleo duro’ desse grupo é composto por 28 instituições financeiras que possuem ativos da ordem de US$ 50 trilhões (média de U$ 1,8 trilhão cada um, enquanto o PIB dos EUA é de US$ 15 trilhões e o do Brasil, sétima economia do mundo, é da ordem de U$ 1,6 trilhão). Ou seja, três quartos do PIB mundial, ou, ainda, o mesmo valor total das dívidas públicas de todos os países do mundo”, informa o professor da PUC SP.

“Lembremos o mecanismo básico do enriquecimento especulativo: um bilionário que aplica um bilhão em papéis que rendam modestos 5% ao ano está ganhando 137 mil dólares ao dia. No dia seguinte a fortuna dele irá render sobre um bilhão mais o ganho do dia anterior e assim por diante, sem precisar produzir nada”, explica Dowbor.

O sistema financeiro tem o verdadeiro poder

Na palestra, o economista mostrou como a financeirização dilacera as economias no Brasil e no mundo ao forçar os governos eleitos a cumprir agendas refutadas pelas urnas. “Sobretudo quando desviam grande parte do orçamento público para o pagamento de juros da dívida, engordando ainda mais as forças do capital financeiro em detrimento de políticas públicas de saúde, educação, previdência”, denuncia.

Para o professor, o poder de decisão dos rumos dos países e do mundo não está nos governos nem nos organismos multilaterais, mas nessas corporações, pelo seu peso econômico. Dowbor afirma: “Elas decidem os rumos do planeta. São gigantes econômicos que espalham seus tentáculos por dezenas de países do globo terrestre e influenciam mercados, tendências, eleições, notícias, etc.”.

Pensando alternativas

Na contramão dessa corrente, Ladislau Dowbor informa que economistas influentes de várias partes do mundo estão preocupados com essa marcha da insensatez e começam a produzir estudos visando criar modelos alternativos de desenvolvimento, ambientalmente sustentáveis e socialmente mais justos.

Entre as iniciativas, Dowbor citou a convocação do papa Francisco, para março de 2020, de uma reunião planetária para discutir uma nova economia, chamada simbolicamente de Economia de Francisco.

“Gerou-se com isso um amplo movimento, por parte de comunidades de diversas religiões, e ampliou-se a visibilidade com a participação direta de personagens como Jeffrey SachsJoseph StiglitzAmartya SenVandana ShivaMuhammad YunusKate Raworth e outros personagens de primeira linha mundial, com forte presença de prêmios Nobel. Uma ideia básica, de que a economia deve servir à sociedade, e não o contrário, está encontrando um eco profundo. Vivemos uma era de profunda insegurança e busca de novos modelos. O atual não funciona”, conclui Ladislau Dowbor.

Resumos de seus principais livros e inúmeros artigos, dele próprio e de outros economistas e pensadores, podem ser acessados gratuitamente no em sua página na internet http://dowbor.org/.


Fonte: Fetec-CUT/CN


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