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9 de Fevereiro de 2019 às 07:18

Estatais são como 'filhos que fugiram e hoje são drogados', diz Guedes


Crédito: Sérgio Lima/Poder360

Folha de São Paulo
Nicola Pamplona

Rio de Janeiro - O ministro da Economia, Paulo Guedes, comparou nesta sexta (8) as estatais brasileiras a "filhos que fugiram de casa e hoje são drogados". Em sua visão, disse, todas deveriam ser privatizadas, mas o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e os militares pediram que algumas permaneçam estatais.

"Eu falava que tinha que vender todas [as estatais], mas naturalmente o nosso presidente, os nossos militares olham para algumas delas com carinho, como filhos, porque foram eles que as criaram. Mas eu digo, olha que seus filhos fugiram e hoje estão drogados", disse, em evento sobre privatizações no BNDES.

Guedes não citou nomes das empresas, mas o governo já decidiu, por exemplo, que não privatizará a Petrobras. Em discurso em outro painel, o secretário de Desestatizações e Desinvestimentos, Salim Mattar, citou ainda BNDES e Caixa Econômica Federal entre as estatais que Bolsonaro e os militares querem manter.

Para a Eletrobras, será mantida a proposta de capitalização anunciada no governo Temer, que compreende o lançamento de novas ações para venda a investidores privados, diluindo a fatia estatal.

De acordo com o presidente da companhia, Wilson Ferreira, a expectativa é o que o modelo esteja definido até março, para que o lançamento de ações ocorra no início de 2020.

Em seu discurso no evento, o ministro da Economia defendeu que o governo brasileiro não pode mais carregar "ninhos de corrupção", que dão prejuízo, apenas para garantir apoio político em troca de cargos públicos.

"A velha política morreu. Não sabemos qual é a nova, mas sabemos que a velha política morreu. As estatais não vão alimentar mais aquela forma de fazer política", afirmou. Ele defendeu que privatizações podem ajudar a cortar gastos públicos e permitir foco em investimentos sociais, como saúde, educação e segurança. 

No evento, o BNDES apresentou exemplos das privatizações das seis distribuidoras que eram operadas pela Eletrobras, concluído em 2018. Segundo o presidente do banco, Joaquim Levy, foram transferidos R$ 9,3 bilhões em dívidas a empresas privadas, que terão que aportar R$ 2,4 bilhões em capital e R$ 6,7 bilhões em investimentos.

"Com esse processo, a gente conseguiu tirar um peso do Estado", reforçou a secretária executiva do Ministério de Minas e Energia, Marisete Pereira, argumentando que a situação das empresas tomavam tempo do governo e da Aneel (Agência Nacional de energia Elétrica). 

As seis empresas, que operam nas regiões Norte e Nordeste, foram vendidas em três leilões realizados em 2018, em um processo que enfrentou grande resistência de trabalhadores e políticos locais.

Guedes diz que a estratégia futura é descentralizar o processo de privatizações, com foco em empresas controladas por estados e municípios. Para isso, o BNDES está alterando sua estrutura, criando diretorias para se aproximar dos governos estaduais e prefeituras.

A modelagem de privatizações e concessões será um dos focos do BNDES, reforçou o presidente do banco durante o evento. Ele disse que o banco continuará emprestando dinheiro, mas a juros de mercado e em parceria com o setor privado.

"O BNDES vai continuar proporcionando crédito de longo prazo para investimento, mas agora já sem subsídio e com disciplina, focando realmente onde pode haver falhas de mercado e com parceiros do setor privado", disse Levy.

Para Mattar, o banco não deve mais ter participação relevante em financiamentos a privatizações ou concessões. "Não podemos permitir que o investidor ganhe uma obra, uma concessão, coloque 10% de capital e pegue 90% no BNDES. Isso é estatismo", comentou.

O ministro da Economia deixou o evento no banco sem conceder entrevista.


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