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1 de Julho de 2020 às 16:00

Em meio à pandemia e com alto desemprego, entregadores de aplicativos fazem greve ‘histórica’


Concentração de entregadores na avenida Paulista, em São Paulo

RBA
Gabriel Valery

Entregadores de aplicativos em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza e Salvador aderiram em grande número à greve nacional da categoria desta quarta-feira (1º). Os serviços foram paralisado às 9h, e foram organizados atos públicos, marchas e manifestações pelas ruas da principais capitais do país..

As reivindicações são pelo mínimo de condições para o trabalho. Mesmo em meio à pandemia causada pelo novo coronavírus, esses trabalhadores se arriscam diariamente sem itens básicos de saúde, como álcool gel, máscaras faciais e outros. O movimento também é por melhor remuneração pelas entregas (atualmente em torno de R$ 2 por quilômetro), auxílio alimentação e outros direitos básicos.

O apoio dos internautas aos entregadores foi massivo. Nas redes sociais, a #BrequeDosApps figurou nos trending toppics do Twitter durante todo o dia. Imagens de grandes atos foram postados nas demais redes, como Instagram e Facebook.

Novo paradigma

Para a pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Adriana Coelho, o levante dos trabalhadores informais é uma marca histórica na luta trabalhista. “Em um mundo duramente atingido pelo desemprego, os entregadores poderiam parecer ser os únicos trabalhadores que teriam conseguido driblar a crise agravada pela pandemia. Não são”, disse.

Ela explica que a pandemia acirrou a concorrência. De fato, os entregadores se queixam da redução na remuneração nos últimos meses. “Apesar do grande número de entregadores circulando nas ruas; apesar de sabermos que esse ramo foi um dos únicos que cresceu vigorosamente durante a pandemia; a realidade desses que estão carregando a sociedade pandêmica nas costas é bem pior do que imaginamos.”

Sem vínculos com as empresas para quem prestam serviço (Ifood, Rappi, Uber Eats, etc), as condições destes trabalhadores é de extrema precariedade. Durante suas jornadas, que chegam a 12 horas por dia, 30 dias por mês, não têm nem mesmo banheiro. Vale-refeição, assistência médica – considerando que a atividade representa constante risco de acidentes – também não têm. A renda mensal média dos entregadores de aplicativo é de um salário mínimo.

Essa é uma nova fronteira da precarização, que especialistas chamam de “uberização”. Sob a falácia de “empreendedorismo”, cada vez mais os entregadores estão sem as mínimas condições de trabalho.

Para a pesquisadora do CNPq, esse conjunto de motivações para o movimento desta quarta-feira amplia a importância da greve. “O caráter histórico dessa luta revela-se como surgimento de uma luz no fim do túnel. Isso porque aponta para formas de finalmente frear a crescente e destrutiva desregulamentação neoliberal do trabalho. Assim, a organização autônoma desses trabalhadores não só surpreende favoravelmente, como é vista com muito otimismo e solidariedade por todas e todos que ainda acreditam e lutam por uma sociedade mais justa e menos desigual”, completa Adriana.

Apps milionários

Paulo Lima, o Galo – considerado uma liderança da categoria em São Paulo que vem ganhando importância – vem denunciando fortemente os problemas dos entregadores de aplicativos. “Estamos mostrando que se nos unirmos podemos trazer o poder para as mãos da gente. Através do sofrimento comum, estamos unidos contra os aplicativos. Os aplicativos são nossos e não dos caras. O futuro é de uma classe trabalhadora unida e forte”, disse aos Jornalistas Livres.

A ex-presidenta Dilma Rousseff também se pronunciou em apoio aos entregadores. “Todo apoio ao #BrequeDosApps. Entregadores de aplicativos pararam as atividades em pelo menos 14 capitais e grandes cidades, exigindo vínculo empregatício e melhores condições de trabalho. Essa categoria tem sido submetida a uma nova forma de servidão”, disse.


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