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15 de Maio de 2018 às 08:44

“É necessário resgatar a solidariedade”, concluem participantes de seminário


Crédito: GUINA FERRAZ

Brasília - “É necessário resgatar a solidariedade e a consciência de classe para enfrentarmos a violência do capital que desestrutura o trabalho, desumaniza as relações e adoece os trabalhadores”. Essa é a conclusão dos participantes do "Seminário Desestruturação do Trabalho, Assédio Moral e Suicídio", realizado pelo Sindicato na quarta-feira (9) para debater, com a participação de delegados e delegadas sindicais, o adoecimento dos bancários.

A iniciativa, que contou com as palestras da professora e coordenadora acadêmica do Grupo de Estudos e Pesquisas em Saúde e Trabalho (Gepsat) da UnB, Ana Magnólia, e da psicóloga Fernanda Duarte, marca o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho, lembrado em 28 de Abril.

No encontro, os participantes aprovaram orientações para serem debatidas durante a Campanha Nacional 2018, como a defesa do SUS, da Cassi, do Saúde Caixa e dos planos de autogestão, que estão com direitos sob ameaça da resolução CGPAR 23, além de indicar a priorização das pautas e reivindicações de saúde e condições de trabalho.

De acordo com avaliação da secretária de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato, Mônica Dieb, o Seminário cumpriu o seu propósito, na medida em que debateu a responsabilidade da organização e da gestão assediadora no trabalho como determinante para o adoecimento dos bancários e defendeu a saúde como direito universal.



“Resgatamos os períodos de crise e de reinvenção do capitalismo e refletimos sobre os impactos da inovação tecnológica da reestruturação produtiva, intensificada nos anos 1980/90, na saúde dos trabalhadores, situação que ora se repete de forma mais agressiva. Denunciamos o ataque violento do governo ilegítimo que congelou os gastos com a saúde por 20 anos e cancelou 80% dos benefícios de auxílio-doença dos trabalhadores, negando-lhes o direito assegurado pela Constituição Federal de adoecer e de se afastar do trabalho para recuperar a saúde”, avalia Mônica. 

A diretora destacou ainda a importância da leitura da cartilha ‘Você não está sozinho – cuidando do sofrimento no trabalho dos bancários’ (clique aqui para ler), que possibilita ao trabalhador identificar situação de risco que pode levá-lo ao adoecimento ou ajudar um colega que esteja passando pelo mesmo problema. “E no sentido de ampliar as ações de acolhimento e apoio àqueles que sofrem com a violência organizacional, colocamos a nossa secretaria à disposição da categoria, realizando visitas nos locais de trabalho e, se necessário, fazendo a intervenção política e jurídica para prevenir e impedir que essa prática nefasta continue a ocorrer”, detalha a dirigente sindical. 

Wadson Boaventura, diretor da Fetec-CUT/CN, destacou a importância de ter trazido à reflexão essas questões que têm adoecido os trabalhadores, levando-os até mesmo ao suicídio. “Vimos que são várias armadilhas. O modelo de gestão nos coloca como uma máquina. Por isso, precisamos exercitar nosso espírito solidário e nos preocuparmos mais com o sofrimento do outro”, disse, acrescentando que, “a partir deste debate, vamos cobrar ainda mais das empresas e exigir uma resposta satisfatória”. 

Crise x mobilização



A palestrante Ana Magnólia Mendes, professora da UnB e coordenadora acadêmica do Grupo de Estudos e Pesquisas em Saúde e Trabalho (Gepsat), destacou que o momento de crise, com os estragos da reforma trabalhista, move o sujeito para a ação e possibilita o ressurgimento de formas diferentes de pensar. Ela falou das questões agravantes que levam o trabalhador ao adoecimento mental e físico, “que têm se alastrado significativamente”.

“As ações políticas a que temos sido submetidos, quando nós começamos a ver colegas próximos se matarem por não suportarem mais esses conflitos éticos e as pressões relacionados ao trabalho, isso é o que chamo de crise ética”, observou Ana Magnólia. 

Para a professora, a patologia da indiferença atua de mãos dadas com o assédio moral, quando há um silêncio coletivo com a injustiça. “A subalternidade se expressa nos ambientes de trabalho. É a identificação do colonizador com o colonizado”. 

Assédio moral 



De acordo com a psicóloga Fernanda Duarte, só recentemente surgiu um espaço para falar mais abertamente sobre o suicídio, prática que vem aumentando entre os trabalhadores e que carrega uma mensagem importante de adoecimento. “Agora tem o Setembro Amarelo e outras campanhas de conscientização para o tema. Mas vale lembrar que nem sempre essa prática está vinculada a uma doença”, alertou.

E continuou: “Temos um registro no Brasil de muitos suicídios na categoria bancária na década de 90, com as mudanças e reestruturações dos bancos. E vemos que não necessariamente ele está vinculado a um transtorno mental. Temos percebido que pessoas sem nenhum quadro clínico, mas que passam por situações degradantes no trabalho, moral ou fisicamente, acabam recorrendo ao suicídio porque não encontram outra saída, ficam sem perspectiva, sem esperanças”.

A psicóloga afirmou que a “maneira de gerir tem sido um fator muito influente para o adoecimento. Portanto, muita atenção com a maneira como as metas são cobradas, o assédio moral, as piadas que não são piadas, a discriminação dos colegas que, mesmo ameaçados, ficam calados e não se solidarizam com os outros”, recomendou, lembrando que o acolhimento é fundamental. 

28 de abril é Dia mundial em Memória das Vítimas de Acidente e de Doenças do Trabalho

Nesse dia em que as vítimas dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho são homenageadas, é também um momento em que os movimentos sindicais enfatizam a luta por melhores condições de trabalho e para que se busquem formas de prevenção. A data foi criada para lembrar a morte de 78 trabalhadores vítimas da explosão de uma mina no estado da Virgínia, nos Estados Unidos, em 1969.

Em 2003, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) consagrou a data como o dia para reflexão e manifestação dos trabalhadores sobre a segurança e saúde no trabalho. No Brasil, a data foi reconhecida em 2005.

Acidente no trabalho: Brasil ocupa o 4º lugar

Segundo a OIT, são 6,3 mil trabalhadores mortos por dia, o equivalente a 2,3 milhões por ano. Atualmente, o Brasil é o quarto colocado no ranking de acidentes de trabalho no mundo e a situação pode piorar em função da reforma trabalhista que já está em vigor no Brasil. A subnotificação também é um entrave porque camufla um cenário que é muito mais alarmante.

Mariluce Fernandes
Do Seeb Brasília


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