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8 de Junho de 2021 às 08:00

Ex-diretor eleito escreve artigo denunciando desmonte na Cassi


Em artigo com o título “Cassi – Desmonte começa por Brasília”, o ex-diretor da Caixa de Assistência chama a atenção dos trabalhadores da ativa e aposentados do Banco do Brasil para o desmonte da autogestão que a atual diretoria da Caixa de Assistência tem adotado como estratégia. William Mendes, mostra preocupação com a terceirização de atendimento por telefone e por empresas do mercado privado, o que, segundo ele, é um caminho perigoso e prejudicial para a associação que cuida da vida de mais de 600 mil pessoas da comunidade do Banco do Brasil.    

Confira abaixo o artigo na íntegra:

Cassi - Desmonte começa por Brasília

Soube que a nossa Caixa de Assistência está fechando CliniCassi em Brasília (DF). Reduzindo a estrutura do modelo assistencial. E o pior é que divulga a notícia dizendo que está "expandindo" os serviços... curioso! O título da matéria é "CliniCassi Brasília Sul e Norte expandem atenção primária em novo endereço" (matéria de 28/5/21)

Não é de hoje que estamos alertando a comunidade de trabalhadores da ativa e aposentados do Banco do Brasil que a atual direção da nossa Caixa de Assistência adotou uma estratégia de desmonte da nossa autogestão, apostando na terceirização total de nosso modelo assistencial baseado na Estratégia Saúde da Família (ESF), modelo que se dá na Cassi através das unidades próprias de saúde, as CliniCassi, com equipes multidisciplinares de família, programas de saúde e alguns serviços de saúde locais de acordo com o perfil de cada unidade.

A direção atual de nossa Caixa de Assistência tem se utilizado de estratégias muito semelhantes às utilizadas pelo governo de plantão em nosso país. Poderíamos entender isso como algo natural ao lembrarmos que metade da direção é indicada pelo regime no poder (o patrocinador indica). Acontece que vemos uma sintonia incomum entre as duas partes da gestão, a indicada e a eleita pelos associados. Em situações como essa - pensamento único na direção - fica evidente o risco da autogestão tomar uma direção contrária aos interesses dos associados.

Uma coisa curiosa é a forma como a direção da autogestão está desmontando o modelo assistencial testado e aprovado em relação à eficácia da Estratégia Saúde da Família (demonstramos por estudos entre 2014/18). A direção repete mil vezes a expressão "Atenção Primária" de forma a virar um mote que tire a atenção para o fato: a ESF e sua estrutura própria de CliniCassi está sendo preterida em favor de contratar empresas terceirizadas para atender aos associados por telefone (!?), ou seja, a tal "telemedicina" virou outra palavra mágica e mote para dizer qualquer coisa na autogestão dos funcionários do BB.

PRIMEIRO ATENDIMENTO NÃO É O MESMO QUE ATENÇÃO PRIMÁRIA - Ao que parece, a estratégia de ficar repetindo a frase "Atenção Primária" tem um efeito inicial de dar algum tipo de atenção aos associados que estão em regiões com pouca rede credenciada, um problema oriundo do próprio mercado privado que vende serviços de saúde. O usuário acha que agora vai melhorar porque alguém lhe atendeu por telefone pela primeira vez. Nesses casos, o "primeiro atendimento" pode ser confundido com "atenção primária".

ATENÇÃO PRIMÁRIA NA CASSI SE DÁ ATRAVÉS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA NAS CLINICASSI - Só que esse primeiro contato terceirizado e por telefone não é o modelo assistencial que a Cassi desenvolveu ao longo de anos de aperfeiçoamento, no qual a ESF foi a forma de fazer Atenção Primária em Saúde (APS), estratégia definida e aprovada através de estudos e pilotos entre 1997 e 2001, após a reforma estatutária de 1996.

A autogestão e as outras operadoras de saúde têm dificuldades de rede por causa de diversos fatores do próprio mercado - o lucro é o objetivo de todas as empresas, consultórios e clínicas e profissionais que vendem serviços. As empresas e operadoras que estão se dando melhor são aquelas que têm estrutura própria de saúde e não o contrário, como está apostando a direção da Cassi: ao invés de investir para melhorar e estrutura própria e ampliá-la, está terceirizando e se desfazendo da estrutura que já tem. Isso não é razoável!

CASSI EM BRASÍLIA (DF) - Entre 2014 e 2018 a ESF cresceu em 52% o cadastramento de participantes e chegou a 14.500 pessoas acolhidas pelo modelo graças ao trabalho conjunto da diretoria de saúde, da Unidade Cassi DF e das CliniCassi Brasília Norte e CliniCassi Brasília Sul. Antes, tínhamos pouco mais de 9,5 mil cadastrados. (ler o balanço da gestão que fizemos em relação à Unidade DF aqui)

ÍNDICE DE (D)EFICIÊNCIA OPERACIONAL DA CASSI - Conheço a estrutura da rede própria da nossa Caixa de Assistência e afirmo que é um total absurdo fechar as CliniCassi onde estão localizadas hoje em Brasília. Fica claro que a direção vai fazer o mesmo no restante do país porque tem uma leitura equivocada da autogestão em saúde e do modelo assistencial: ela fica olhando custo administrativo que é muito pequeno na Cassi em relação ao custo-benefício de fidelizar e monitorar os cadastrados na ESF, tanto os crônicos quanto as pessoas com risco de doenças.

A Cassi vai voltar a ser mera pagadora de compra de serviços de saúde no mercado. É uma aposta suicida, na minha opinião. Nenhuma empresa de saúde do mercado tem apostado nisso. As operadoras de saúde sabem que ter uma estrutura - primária, secundária, alguns hospitais de maior complexidade (próprios ou parceiros) e centros de imagem e diagnose - é importante no controle dos custos totais do início ao fim do processo nesse setor.

TERCEIRIZAÇÃO NA CASSI É ESCOLHA DE ALTO RISCO - Desmontar a estrutura própria de saúde e as equipes multidisciplinares e apostar na terceirização para comprar atenção básica no mercado é um equívoco sem volta porque não será fácil refazer o modelo com a expertise que conquistamos em décadas de aperfeiçoamento. A autogestão vai se autodestruir.

Nós ampliamos cerca de 25 mil vidas na Estratégia Saúde da Família (ESF) chegando a 182 mil cadastrados em 2018 porque tivemos foco e gana em fazer isso, pedimos o empenho das equipes nas unidades e elas responderam por acreditarem no modelo ESF e CliniCassi. Agora a direção atual está desmontando a estratégia testada e aprovada há mais de duas décadas.

Fica meu registro de preocupação e oposição a essa estratégia de desmonte da estrutura do modelo assistencial da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil. Apostar numa terceirização de atendimento por telefone e por empresas de atenção primária no volátil mercado privado é um caminho perigoso e prejudicial para nossa associação que cuida da vida de mais de 600 mil pessoas da comunidade BB. O custo disso será alto e parte dos participantes não vai dar conta de pagar, saindo do sistema Cassi.

Aliás, só pra lembrar a vocês, cada vez que alguém sair do Plano de Associados (que é pra vida toda) é redução de custo para o patrão BB...

William Mendes - Bancário do Banco do Brasil desde 1992, formado em Ciências Contábeis pela FITO (bacharelado) e formando em Letras pela USP (bacharelado). Foi Diretor eleito do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região por 4 mandatos (2002/2014). Foi representante da Fetec/CUT-SP na Comissão de Empresa dos Funcionários do BB (2005/07). Foi Secretário de Imprensa da Contraf-CUT (2006/09). Foi Secretário de Formação da Contraf-CUT por dois mandatos (2009/15). Foi Coordenador das negociações nacionais do BB (CEBB/Contraf-CUT) entre 2012/14. Foi Diretor eleito de Saúde e Rede de Atendimento da CASSI - Caixa de Assistência dos Funcionários do BB (mandato 2014/2018).


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