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5 de Dezembro de 2020 às 09:10

Dor, medo e pedido de justiça: Sindicato vai a Cametá um dia após ataque ao Banco do Brasil que terminou em morte


De um lado, bancários e bancárias apreensivos; do outro, uma família chorava a perda de Alessandro Lopes, 25 anos, um dos reféns morto com um tiro durante o ataque a explosivos na agência do Banco do Brasil em Cametá, na região do Baixo Tocantins, na noite da última terça-feira (1º). Outra vítima que também foi baleada segue internada sem risco de morte em um hospital da cidade.

“Como eles não conseguiram levar nada, acho que eles vão voltar, devem estar perto, escondidos na mata. Depois que o barulho das explosões cessou, foi difícil dormir, está sendo difícil continuar a rotina”, desabafa uma bancária que pediu para não ser identificada.

Quando os dirigentes sindicais, Gilmar Santos, também bancário do Banco do Brasil, e Suzana Gaia, do Banco da Amazônia, chegaram ao município na noite de quarta-feira (2), encontraram uma cidade em silêncio, poucas pessoas andavam pelas ruas, mas policiais militares, civis e muitas viaturas eram vistas pela cidade, como nunca antes, segundo alguns moradores. Boa parte do comércio já estava de portas fechadas e outros encerravam o atendimento um pouco mais cedo. O sentimento de luto pairava no ar.

“Foram cerca de cinco horas de viagem, com três travessias e alguns trechos da estrada em situações precárias, uma viagem cansativa, mas a categoria precisava de nós por perto, e esse era nosso objetivo, saber o sentimento deles, ouvi-los, orientá-los”, afirma Suzana Gaia.

Único acesso a Cametá, vindo de Belém, é pelo rio Tocantins que banha a cidade, muito famosa pelas suas praias e balneários.

Já na manhã do dia seguinte (3), o cenário era totalmente diferente da noite anterior. Ruas movimentadas, mas o comentário na cidade ainda era sobre a madrugada de terror. Na frente da agência onde tudo aconteceu, além de curiosos, muitos aposentados, de ilhas próximas a Cametá, em busca do próprio dinheiro, única fonte de renda, que os criminosos não conseguiram levar, mas por conta dos estragos na unidade e do trabalho da perícia, nem clientes e nem usuários poderiam sacar.

Segundo nota do Banco do Brasil, esses deveriam se dirigir às agências menos longes, em Baião ou Igarapé Miri, porque dizer mais próximas é um desrespeito com quem espera o dia do pagamento chegar, como a dona Maria.

“Acordei às 5h da manhã, passei duas horas numa rabeta pra chegar até aqui e voltar pra casa sem meu dinheirinho com as contas pra pagar. Como vai ser?”, desabafa preocupada.

A agenda de atividades dos dirigentes sindicais começou ali na frente da aposentada, que junto com outros idosos e moradores da cidade, acompanhavam atentos à entrevista, ao vivo, do sindicato para o Bom Dia Pará, o primeiro jornal local da manhã da Tv Liberal, afiliada da Rede Globo no Pará.

“Não podemos dizer que uma ação criminosa, dessa natureza, foi inesperada, requer muito planejamento e estrutura, mesmo que tenha sido frustrada. A estrutura física da unidade vai ser recuperada, mas os traumas e as lembranças não serão esquecidas na mesma proporção e intensidade que os órgãos de segurança trabalham para prender os bandidos. Aliás, toda essa dedicação deveria existir para coibir crimes dessa natureza contra a categoria bancária, especialmente a do interior, onde o policiamento é reduzido, deixando toda uma população vulnerável, principalmente nessa época de final de ano”, observa o dirigente sindical, Gilmar Santos.

No dia do ataque ao banco, até o batalhão da Polícia Militar, que fica na principal praça da cidade, foi atacado de forma simultânea, além de duas viaturas. Foi na mesma praça também onde cerca de 50 moradores foram feitos reféns e usados como escudo humano pelos criminosos que portavam armas de grosso calibre e explosivos de alta potência de destruição.

Após a entrevista, os dirigentes sindicais entraram na agência, parcialmente destruída, para conversar com os únicos dois bancários que estavam no local acompanhando o trabalho da perícia. Os outros funcionários estavam em casa, desde o dia do ataque, aguardando orientação do banco.

De lá os diretores do sindicato foram ao cemitério da cidade para se solidarizar com os familiares e amigos do jovem Alessandro Lopes, que deixou esposa e um filho de 6 anos.

“O que vimos foi de partir o coração, uma família em prantos pedindo justiça”, conta Suzana Gaia.

Segundo um dos amigos de trabalho de Alessandro, o jovem rapaz era cheio de sonhos. “Alessandro era sinônimo de alegria, veio do interior de Cametá em busca de realizar o sonho dele, de construir as coisas através do seu próprio trabalho. Queremos justiça e que esse crime não fique impune. A gente pede mais segurança pra Cametá e pra região do Baixo Tocantins, não é a primeira vez que vemos a cidade de mãos atadas dependendo de reforço da capital e de cidades próximas”, conta o locutor Anderson Valente.

Depois do velório, os diretores do Sindicato se encontraram com os demais bancários e bancárias do Banco do Brasil em um estabelecimento particular para tirar dúvidas e prestar orientação sobre quais procedimentos devem ser necessários caso apresentem insônia ou outros transtornos psicológicos.

“Infelizmente acontece de os colegas, mesmo não sendo vítimas diretas da ação criminosa, apresentarem logo em seguida, ou mesmo alguns meses depois, problemas de insônia, ansiedade, nervosismo, às vezes até síndrome do pânico. É preciso estar atento a qualquer tipo de sintoma e comunicar ao banco, caso o colega encontre resistência quanto ao atendimento especializado, que procure o Sindicato”, orienta Gilmar Santos.

Outra preocupação do funcionalismo era sobre onde eles iriam trabalhar, se na parte da agência que não foi atingida ou se iriam ser remanejados para outros municípios.

“Nesse sentido, trabalhadores e banco precisam chegar a um consenso que não prejudique os colegas, se eles avaliam que é possível trabalhar aqui na cidade, sem prejuízos à saúde física e mental, que assim seja feito. Vamos procurar a superintendência para que a vontade deles prevaleça e que sejam garantidas as condições de trabalho seguras”, finaliza Gilmar.

“Muito obrigada pelo apoio e pela presença de vocês aqui na cidade, nos sentimos acolhidos nesse momento em que nossa cidade está de luto e a população ainda bastante apreensiva”, agradece uma bancária.

Os bancários e bancárias das demais agências de Cametá, também receberam a visita do Sindicato no próprio local de trabalho. Esses encontros serão tema de uma série de reportagens que a categoria vai poder acompanhar na próxima semana em bancariospa.org.br e demais redes sociais.

Investigações

Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Pará, quatro suspeitos de participarem já foram identificados, assim como dois dos veículos usados pelo bando. Imagens do circuito interno da agência bancária e estabelecimentos comerciais da região foram coletadas e estão sendo analisadas.

Testemunhas do crime continuam sendo ouvidas. A perícia criminal trabalha na análise dos dois automóveis já encontrados. Um no KM 40 da Transcametá, com 38kg de dinamite e o outro içado no rio rio Itaperaçu, município de Baião, no Baixo Tocantins.

A perícia criminal também analisa o material balístico, e já fez a coleta de material biológico num dos carros usados pelos criminosos, e tudo está sendo encaminhado ao laboratório, assim como utensílios, que vão ajudar nas investigações da PC.

As equipes da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (CORE) continuam na cidade realizando diligências, até agora ninguém foi preso.

 

Fonte: Bancários PA com informações da Agência Pará


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